PENSAR A CIDADE ATRAVÉS DA FRAGMENTAÇÃO E DA RECONFIGURAÇÃO:
DESAFIOS ESTÉTICOS E CONCEPTUAIS
1-3 DE JUNHO DE 2022, LISBOA (COLÉGIO ALMADA NEGREIROS, NOVA FCSH)
NO ÂMBITO DO PROJECTO DE INVESTIGAÇÃO FCT [PTDC/FER-FIL/32042/2017]:
FRAGMENTAÇÃO E RECONFIGURAÇÃO: A EXPERIÊNCIA DA CIDADE ENTRE ARTE E FILOSOFIA
APRESENTAÇÃO
A relação entre a estética, as artes e a cidade conheceu novas formas no último século e meio, num processo coincidente quer com o desenvolvimento das metrópoles modernas, quer com o aparecimento de novas tecnologias que têm permitido conhecer, estudar e reinventar a experiência urbana. Além do mais, as cidades desde sempre levantaram questões estéticas fundamentais, relativas aos modos de sentir, percepcionar e habitar, às estruturas espácio-temporais que condicionam a experiência humana, bem como à relação com a natureza e o não-urbano.
Por outro lado, se é verdade que a filosofia ocidental nasceu numa íntima relação com a polis, nem sempre é fácil tornar explícitos os termos das múltiplas relações, históricas e conceptuais, entre filosofia e cidade. De qualquer forma, parece evidente que, sem deixar de apelar a uma multiplicidade de perspectivas disciplinares, os fenómenos urbanos interpelam e deixam-se interpelar pelos conceitos filosóficos: os mais propriamente estéticos, mas também, e desde logo, os que tratam de questões sociais, éticas e políticas.
O par de conceitos fragmentação e reconfiguração visa orientar as contribuições para a conferência e o modo como ela se propõe desenvolver a relação do pensamento filosófico com a cidade. Esse par de conceitos liga-se com outros que lhe são afins: construção e destruição, fragmento e todo, a singularidade de cada coisa e a tendência teórica para procurar uma síntese abrangente. Propondo como objectivo geral a exploração de tensões criativas e dialécticas entre fragmentação e reconfiguração que sejam capazes de abrir um espaço crítico e diferencial – um espaço de pensamento e de práticas –, esta Conferência Internacional visa explorar as diferentes formas como a experiência humana e as práticas artísticas absorvem e respondem à fragmentação que caracteriza as cidades modernas. Espera-se que este seja também um espaço que permita quebrar as imagens homogéneas das cidades contemporâneas criadas por processos ligados ao capitalismo e à globalização, os quais tantas vezes obscurecem outras formas de vida.
O conceito de fragmentação não pressupõe necessariamente uma nostalgia da unidade perdida. Pelo contrário, pode ser assumido como parte de um processo inevitável da modernidade, que tem como contraponto produtivo a análise de fragmentos, pormenores e casos de estudo circunscritos, acessos críticos a uma compreensão do nosso tempo presente, por mais provisórios que sejam esses acessos. Por outro lado, o conceito de reconfiguração invoca a própria possibilidade de repensar, reconstruir e reimaginar o espaço urbano, o que é da maior importância não só para a reflexão filosófica sobre a cidade, mas também para as práticas artísticas que com ela lidam e nela se inspiram. Isto é tanto mais relevante quanto a presente conferência (e o projecto que está na sua origem) estão ancorados em Lisboa, uma cidade cujos processos contemporâneos de reconfiguração levantam uma série de desafios estéticos e conceptuais.
CONFERENCISTAS CONVIDADOS
- Fabrizio Desideri (Università di Firenze)
- David Kishik (Emerson College, Boston)
- Paula Cristina Pereira (University of Porto)
- Adriana Veríssimo Serrão (University of Lisbon)
- Jean-Paul Thibaud (CNRS, CRESSON)
COMITÉ CIENTÍFICO
- João Pedro Cachopo (IFILNOVA/NOVA FCSH)
- Hugh Campbell (University College Dublin)
- Nélio Conceição (IFILNOVA/NOVA FCSH)
- Bruno C. Duarte (IFILNOVA/NOVA FCSH)
- Graeme Gilloch (Lancaster University)
- Sanna Lehtinen (Aalto University and University of Helsinki)
- Maria Filomena Molder (IFILNOVA/NOVA FCSH)
- Paula Cristina Pereira (University of Porto)
- José Miguel Rodrigues (University of Porto)
- Susana Ventura (IFILNOVA/NOVA FCSH)
- Susana Viegas (IFILNOVA/NOVA FCSH)
Organização:
Paula Carvalho, Nélio Conceição, Bruno C. Duarte, Nuno Fonseca, Alexandra Dias Fortes, Maria Filomena Molder, Susana Ventura.
Localização: todas as sessões da conferência terão lugar nas instalações do CAN (Colégio Almada Negreiros), um dos edifícios do campus de Campolide da Universidade Nova de Lisboa. Eis a morada:
Colégio Almada Negreiros
Universidade Nova de Lisboa,
Campus de Campolide
1099-085 Lisboa
Direcções:
Entrada: Reitoria - Rua da Mesquita
Entrada alternativa: NOVA Law School - Travessa Estêvão Pinto
Autocarro (Carris) 701, 702, 758
Metro
São Sebastião Station (Linha Vermelha)
Praça de Espanha Station (Linha Azul)
Comboio (CP)
Sete Rios - estação mais próxima com ligaçao para a linha azul do metro.
Campolide - Ligação com Carris: autocarros 701, 702, 758
Bicicleta (Gira sistema lisboeta de aluguer de bicicletas para residentes e visitantes)
Parque Gira - parque de bicicletas no Colégio Almada Negreiros (CAN)
Programa e resumos abaixo.
VÍDEOS:
DAVID KISHIK My Schizoyd City
FABRIZIO DESIDERI Cities of memory and ruins of the present. Reflections in wartime
JEAN PAUL THIBAUD Towards a Political Ecology of Urban Ambiances
ADRIANA VERÍSSIMO SERRÃO Scenes of urban life in Georg Simmel. Passages between house and city
PAULA CRISTINA PEREIRA Philosophy of the city. Rethinking the political
CONFERÊNCIA DE ENCERRAMENTO
NÉLIO CONCEIÇÃO Ongoing Reconfiguration: Final Remarks
MARIA FILOMENA MOLDER Closing Conference: On Some Fragments of Trás-Os-Montes (1976), a film by António Reis and Margarida Cordeiro
LISTA DE REPRODUÇÃO DOS VÍDEOS DA CONFERÊNCIA DISPONÍVEL AQUI.
COLÓQUIO:
TRANSLATION AND THE URBAN LANDSCAPE: THE AFTERLIFE OF THE ARCADES
13 de Dezembro de 2019 | Universidade Nova de Lisboa | FCSH
Colégio Almada Negreiros | Sala CAN 217 |
Resumos e notas biográficas disponíveis em inglês.
Resumo
O que liga a vida quotidiana das cidades, na sua materialidade, às imagens da linguagem? É possível olhar de mais perto esta questão pensando a cidade pela tradução, e a tradução pela cidade. Esta relação é tão antiga como urgente: prolonga-se pelo menos desde o mito de Babel, a narrativa da fragmentação das línguas, até à coexistência complexa, nas nossas cidades, de inúmeras formas linguísticas e culturais. Partindo dasPassagens de Paris, de Walter Benjamin, um projecto de reflexão filosófica sobre a história da cidade de Paris atravessado pela relação entre diferentes línguas e épocas históricas, esta conferência irá explorar as muitas faces do acto de traduzir no interior e através da paisagem urbana.
Contextualização teórica
Que relação existe entre a vida quotidiana das cidades, na sua materialidade, e as formas e imagens da linguagem? O que nos leva a transpor ou traduzir uma obra de arte no espaço e no tempo, quando reconhecemos por exemplo na Paris do século XIX a história o nosso próprio presente? Estas e outras questões podem ser olhadas de mais perto pensando a cidade pela tradução, e a tradução pela cidade.
No seu ensaio “A Tarefa do Tradutor”, Walter Benjamin fala da transparência e da verdade da tradução elegendo a palavra, por oposição à frase, como o «elemento originário do tradutor», e acrescenta: «a frase é o muro diante da língua do original, e a literalidade [é] a arcada».
Por seu turno, a concepção, metodologia e execução do Projecto das Passagens são atravessadas pelo próprio gesto de traduzir: a montagem literária, a justaposição de citações e imagens numa rede de referências e ramificações quase infinitas, implica necessariamente não apenas o movimento da tradução enquanto tal, mas a sua transformação.
Na verdade, o projecto das Passagens, cujo início é contemporâneo da tradução de Proust em parceria com Franz Hessel, acaba por expandir-se numa ideia mais vasta, essencialmente metafórica, da tradução: Benjamin fala por exemplo da possibilidade de transpor ou traduzir «o carácter de mercadoria no cosmos», e diz das «fantasias tardias» de Grandville que elas transpõem, «traduzem o carácter de mercadoria para o universo». A tradução excede assim o espaço literário, e alarga-se ao mundo.
Nas passagens parisienses, espaços ao mesmo tempo interiores e exteriores, pontos de intersecção de caminhos, objectos, experiências, é tornada visível a ambiguidade da vida das cidades e das metrópoles modernas – no andar do transeunte como na deslocação das épocas históricas, no fluxo de línguas e culturas como na dinâmica de tradição e modernidade. Elas são por isso lugares imediatos da tradução, não já como simples relação de uma linguagem com outra, mas entendida como uma arte do espaço projectada na história por aquilo a que Benjamin chamou a vida contínua, a «outra vida» de uma obra.
Conference by Paulo Reyes*: "Pensar a cidade pelo projeto"
Quarta-feira, 20 de novembro de 2019
15h00 - 18h00
CAN (Colégio Almada Negreiros) | Sala SE 2 | NOVA FCSH
Campus de Campolide (mapa)
Resumo
Entre os inúmeros modos de pensar a cidade, o projeto é uma das formas como o urbanismo enquanto campo de conhecimento se expressa. Não só como leitura, mas basicamente como intervenção, o projeto é uma das maneiras de visualizar futuros realizáveis e, para isso, apoia-se em imagens. Essas imagens são representações de projetos consagrados que servem como balizadoras ao processo criativo. Nesta conferência, problematiza-se essa perspectiva resolutiva de produção de cidade, a partir de uma leitura crítica sobre o papel das imagens na construção de campos semânticos consensuais nos procedimentos de projeto. Essa postura crítica segue duas linhas teóricas: a perspectiva política e estética em Jacques Rancière e a operação sobre as imagens proposta por Georges Didi-Huberman. Pensar o projeto nessa perspectiva, é deslocar um pensamento baseado na técnica para um pensamento baseado na política como um ato de visibilidade de uma desigualdade no plano do sensível. Posiciona-se, assim, a imagem em uma situação de estranhamento, menos como figura e mais como um ato. Estranhar a imagem é apostar em múltiplos significados que possam surgir da sua abertura e que permitam um deslocamento de um pensamento do projeto realizável para o projeto como possível.
*Pesquisa com financiamento CAPES PRINT - Edital Professor Visitante no Exterior Sênior
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (Capes) - Código de Financiamento 001
https://www.culturelab.ifilnova.pt/en/events/conferencia-paulo-reyes-pensar-a-cidade-como-projecto
Conferência inaugural do Projecto
António Guerreiro, "A gramática generativa da cidade: tipologias linguísticas, representações literárias e topografias políticas"
Sala Multiusos 2 - Edifício I&D, piso 4 - FCSH
28. Novembro 2018 | 16h00-18h00