Ciclo de Seminários: A experiência da cidade entre arte e filosofia
Março 2020
Abril-Junho 2021
Este ciclo de seminários pretende reflectir sobre o papel das práticas artísticas na representação e reconfiguração da experiência urbana. Contará com a colaboração de artistas e investigadores que se juntam à equipa do projecto “Fragmentação e reconfiguração: a experiência da cidade entre arte e filosofia”. Cinema, fotografia, literatura, artes sonoras, arquitectura: como é que estas artes pensam e reinventam a cidade? O que nos fazem sentir? E qual o seu papel social e o político? Lisboa será a estação de partida, mas outras cidades farão parte do percurso.
A sessão dedicada ao cinema decorreu no dia 3 de Março de 2020, no Colégio Almada Negreiros (informações sobre o programa e participantes mais abaixo nesta página), ainda em regime presencial. Em 2021, a actividade realizou-se online, via Zoom (vídeos abaixo).
Eis o calendário das sessões:
Fotografia: 13 de Abril
Artes Sonoras: 3 de Maio
Literatura: 24 de Maio
Arquitectura: 16 de Junho
16 de Junho: arquitectura
A arquitectura, como prática artística, pode dizer-se correlata da cidade em diversos sentidos. A arquitectura desenha e constrói a forma da cidade, nomeadamente a partir da ideia de fragmento ou de sobreposição de camadas, enquanto, simultaneamente, define e modela a experiência da mesma, condicionando a memória cultural, o tecido social e as acções políticas. Num outro sentido ainda, a arquitectura serve-se da cidade (a cidade-fragmento) como dispositivo de representação e ensaio sobre a sua própria (re)configuração. Ao que podemos considerar como tecido e território consolidados, necessariamente, pela arquitectura, contrapõe-se um outro território onde se pressentem as dilacerações, os conflitos e as transformações ocultas da cidade. Estes estimulam a imaginação de novas formas de cidade e de experiência na cidade, sobre as quais, muitas vezes, são projectados desejos utópicos, pois é, apenas, na cidade que a arquitectura poderá exercer o seu desígnio último: desenhar e construir o espaço colectivo, o espaço público.
O seminário dedicado à Arquitectura parte desta segunda interpretação, procurando perscrutar as práticas que podem ajudar a definir um território que gostaríamos de pensar como emancipatório. Estas práticas são explorações e exercícios de carácter experimental, que reagem, criticamente, aos problemas que afectam a arquitectura e a cidade, procurando contrariar a normalização e a alienação que determinados fenómenos têm incutido às cidades e à experiência colectiva do habitar, servindo-se de acções performativas, caminhadas geopoéticas, cartografias intensivas, entre outros dispositivos de pensamento (arquitectónico).
PROGRAMA
10.00 - 10.20
Breve Apresentação Susana Ventura
Introdução ao Seminário e Apresentação dos participantes
10.30 - 11.00
Apresentação Patrícia Robalo
“Linha, forma e centro nos diálogos entre arquitectura e cidade”
24 de Maio de 2021: Literatura
Esta sessão do ciclo de seminários sobre a "Experiência da cidade entre a arte e a filosofia" terá como objecto a literatura. Tanto de forma particular, quando uma cidade concreta é retratada ou sonhada por uma determinada obra, como de uma forma mais geral, a literatura sempre foi um fenómeno urbano. Reflectindo sobre obras e cidades particulares ou alargando a interrogação, esta sessão trará a debate as diferentes modalidades através das quais a literatura habita e é habitada pela cidade.
Com a participação de Alexandre Andrade, Amândio Reis, Diogo Vaz Pinto, Elisabete Marques, Rui Manuel Amaral, Rui Nunes e Tatiana Salem Levy.
Bios dos participantes convidados:
ALEXANDRE ANDRADE
Reside em Lisboa, onde nasceu em 1971. Professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Publicou as ficções "Benoni" (Editorial Notícias, 1997, reedição Relógio d’água, 2016), "Aqui Vem o Sol" (Quasi, 2005), "O Leão de Belfort" (Relógio d'água, 2016), "Descrição Guerreira e Amorosa da Cidade de Lisboa" (Relógio d'água, 2017) e "A Prima do Campo e a Coisa Pública" (Relógio d'água, 2020), e as recolhas de contos "As Não-Metamorfoses" (Errata, 2004), "Cinco Contos Sobre Fracasso e Sucesso" (Má Criação, 2005, reedição Relógio d'água, 2017), "Quartos Alugados" (Exclamação, 2015, segunda edição 2017) e "Todos nós Temos Medo do Vermelho, Amarelo e Azul" (Relógio d'água, 2019). Colaborou nas revistas "Aguasfurtadas", "Bestiário", "Ficções", "Granta" e "Ler", entre outras. Participou nas recolhas de contos "Mosaico" (Editorial Escritor, 1997) e "Onde a Terra Acaba/From the Edge" (ULICES/CEAUL/101 Noites, 2006), e ainda na edição de 2007 da iniciativa "PANOS - palcos novos palavras novas" com a peça "Copo Meio Vazio" (Culturgest, 2007). Foi co-responsável pelo seminário "Ficção Breve" (Pós-Graduação em Artes da Escrita, FCSH-UNL) entre 2017 e 2019.
Co-autor do blog "Cinéfilo Preguiçoso" (cinefilopreguicoso.blogspot.pt). Website: https://lorenzolotto2.wixsite.com/info
AMÂNDIO REIS
Doutorou-se em Estudos Comparatistas na Universidade de Lisboa, em parceria com a U. Bolonha e a K.U. Leuven, com uma tese sobre a ideia de "sobrenatural" na contística de Machado de Assis, Henry James e Guy de Maupassant. É Investigador Contratado no Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde coordena o subgrupo de investigação RIAL — Realidade e Imaginação nas Artes e na Literatura. É também Consultor de Investigação na Europa para a rede INCH — International Network for Comparative Humanities (Princeton U. e U. Notre Dame), no seio da qual co-edita a revista digital de crítica e literatura COMPASS. A sua investigação actual situa-se na intersecção entre os estudos de narrativa e a literatura comparada, incidindo principalmente sobre as formas breves, do fim do século xix ao período modernista, e sobre os estudos interartes, no cruzamento entre literatura e cinema.
DIOGO VAZ PINTO
Diogo Vaz Pinto (n.1985, Lisboa), poeta, jornalista e crítico literário, estudou Direito em Lisboa, publicou os livros Nervo, Bastardo, Anonimato, Ultimato e Aurora para os cegos da noite, e escreve para o semanário Sol e o diário i na área da cultura. É co-fundador das edições Língua Morta.
ELISABETE MARQUES
Poeta e investigadora no Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa (Faculdade de Letras da Universidade do Porto). Desenvolve actualmente um projecto sobre as relações entre Literatura e Cinema. Até à data, publicou dois livros de poesia, Cisco (2014, Mariposa Azual) e Animais de Sangue Frio (2017, Língua Morta) e já participou em várias revistas e antologias de poesia.
RUI MANUEL AMARAL
Rui Manuel Amaral nasceu no Porto, em 1973, cidade onde vive e trabalha. Escreveu os livros "Caravana" (Angelus Novus, 2008), "Doutor Avalanche" (Angelus Novus, 2010), "Polaróide" (Língua Morta, 2015) e “Cadernos de Bernfried Järvi” (Snob, 2019). Traduziu livros de Oliverio Girondo, Francisco Tario, Virgilio Piñera, Rubén Darío e Roberto Arlt. Dirigiu a revista “Águas furtadas”, coordena a Colecção Avesso e é co-editor da FLOP. Editou Konstantinos Kaváfis, Antonin Artaud, Daniil Kharms, Félix Fénéon, Charles Cros, Alphonse Allais, entre outros.
RUI NUNES
Rui Nunes (n.1947) licenciou-se em filosofia pela Universidade de Lisboa. Começa a publicar na década de 70 do século XX e tem hoje uma obra consagrada com mais de 20 títulos já publicados. Ganhou o Grande Prémio de romance e novela da Associação Portuguesa de Escritores com Grito, em 1998, tendo já ganho o prémio PEN em 1992. Em 2015, com Nocturno Europeu, ganha o prémio de melhor livro de ficção narrativa da Sociedade Portuguesa de Autores.
TATIANA SALEM LEVY
Escritora, investigadora na Universidade Nova de Lisboa e colunista do jornal Valor Econômico. Publicou os romances A Chave de Casa (Prêmio São Paulo de Literatura), Dois Rios e Paraíso. É autora também de A experiência do fora: Blanchot, Foucault e Deleuze e O mundo não vai acabar, que reúne várias de suas colunas publicadas desde 2014. Eleita pela revista britânica Granta para a seleção dos vinte melhores jovens escritores brasileiros, seus livros já foram publicados em treze países. Tatiana acaba de lançar, pela editora Todavia, o romance Vista Chinesa.
3 de Maio de 2021: Artes Sonoras
As práticas artísticas que recorrem ao som como meio expressivo e à auralidade como referência antropológica, social, política e cultural, tal como as questões teóricas levantadas pelo som e pela escuta têm surgido nas últimas décadas quer no discurso crítico quer no académico, onde apareceram os “estudos do som” (sound studies) e se fala abundantemente de artes sonoras (sound art). Esta controversa noção de "artes sonoras" abrange um espectro bastante alargado de práticas (da instalação in situ ao soundwalk, passando pela escultura sonora ou pela experimentação musical e performance). No contexto deste nosso seminário, usamos a expressão num sentido ainda mais abrangente que convoca, para além destas, a ópera e o teatro musical, por um lado, e as expressões musicais urbanas, por outro, sobretudo quando todas estas práticas interpelam a experiência estética da cidade, os conflitos e as tensões sociais/políticas/comunitárias que ocorrem no espaço urbano. Convidámos, pois, artistas plásticos, compositores e um curador para discutirem connosco as suas obras e as suas ligações ressonantes com o espaço, o tempo e a vida das/nas cidades.
Bios dos participantes convidados:
André Guedes desenvolve uma actividade repartida entre as artes visuais e as artes performativas. Estudou Arquitetura, Antropologia do Espaço e é actualmente doutorando na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Foi artista residente no Palais de Tokyo, na Gasworks e na Fondazione Pistoletto. Em 2007 foi distinguido com o Prémio de Artes Plásticas União Latina.
As suas obras de artes visuais – instalações, performances, intervenções no espaço público e projetos editoriais – conciliam a pesquisa documental com o trabalho de campo, constituindo-se como uma reflexão sobre a atividade humana na concepção do espaço e das organizações sociais e políticas. Tem exposto as suas obras nos mais prestigiados espaços a nível nacional e internacional. Informação mais detalhada em https://www.veracortes.com/artists/andre-guedes/uid-2bf132e1
Gonçalo Gato é um compositor cujas peças têm sido apresentadas em Portugal, Reino Unido, Alemanha, França e Brasil, tendo lançado, em 2020, o CD NowState pela prestigiada editora KAIROS (Áustria). Foi jovem compositor em residência na Casa da Música (2018) e tem trabalhado com as principais orquestras inglesas (London Symphony Orchestra, BBC Symphony Orchestra e a Britten Sinfonia). É actualmente professor na Universidade Lusófona e ISTEC, tendo ensinado na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, na Universidade de Évora e na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade de Lisboa, assim como na Guildhall School of Music and Drama. Informação mais detalhada em http://www.goncalogato.com/
Luís Soldado é compositor e investigador integrado no Centro de Sociologia e Estética Musical, CESEM, Universidade Nova de Lisboa, onde se encontra a desenvolver projetos relacionados com o estudo e composição de ópera contemporânea e suas novas formas de comunicação, como bolseiro de Pós-doutoramento da FCT. Entre 2018 e 2019 estreou na RTP2 um conjunto de sete mini-óperas televisivas, inseridas na terceira temporada do programa Super Diva – Ópera para Todos. Em 2019 estreou em Torres Vedras a ópera comunitária de rua “É Possível Resistir” com libreto de Rui Zink. É co-fundador e Diretor Artístico da AREPO - Companhia de Ópera e Artes Contemporâneas.
João Onofre (1976). Vive e trabalha em Lisboa.
BA, FBAUL; MFA, Goldsmiths, London; PHD, Colégio das Artes, UC.
Exposiçõs individuais (selecção): Culturgest, Lisboa (2019); MAAT, Lisboa, (2017); Appleton Square, Lisboa (2016); Kunstpavillion, Munique, (2015); Marlborough Contemporary, Londres (2014); Palais de Tokyo, Paris (2011); Fundació Joan Miró, Barcelona (2011); Cristina Guerra Contemporary Art, Lisboa (2007); Galeria Toni Tàpies, Barcelona (2005); Magazin 4, Bregenz, (2004); Kunsthalle Wien- Karlsplatz, Viena (2003); CGAC, Santiago de Compostela, (2003); MNAC, Lisboa (2003); MoMA Contemporary Art Center, Nova Iorque (2002); I-20, Nova Iorque (2001).
Exposições colectivas (selecção): MACBA, Spain (2016); Denver Museum of Contemporary Art, Denver (2012); Sydney- Contemporary Art Museum (2006), Fundació La Caixa, Barcelona (2006); Schirn Kunsthalle, Frankfurt (2006); Philadelphia Museum of Art, Filadélfia (2002); The 49th Venice Biennal, Veneza (2001); Tate Modern, Londres (2000).
13 de abril de 2021: Fotografia
O segundo de uma série de seminários sobre “A Experiência da Cidade entre Arte e Filosofia” é dedicado à fotografia. A sessão terá como ponto de partida a relação de alguns fotógrafos com três cidades: Lisboa, na perspectiva de Pedro Letria e Paulo Catrica sobre a última grande encomenda pública Lisboa Anos 90; Porto, a partir de uma conversa entre André Cepeda e David-Alexandre Guéniot sobre o livro de Cepeda Anti-Monumento (2019); e São Paulo, numa apresentação de Felipe Russo sobre os seus livros Centro e Garagem Automática. Haverá ainda três apresentações em torno de relações entre a fotografia e espaços urbanos, por Susana S. Martins, Nélio Conceição e Humberto Brito.
Bios:
Pedro Letria (Lisboa, 1965) é autor de sete livros, entre os quais Mármore (2007) e The Club (2014). Foi bolseiro Fulbright (2010) e Gulbenkian (1996 e 2010). O seu trabalho faz parte de várias colecções públicas e privadas europeias, tendo sido exposto em lugares como o Centro Cultural de Belém (Lisboa), Fundació Foto Colectanea (Barcelona), Parc de La Villette (Paris), Galeria Olido (São Paulo), Kunstlerhaus Bethanien (Berlim). Ensina desde 2000 na Escola Superior de Arte e Design, nas Caldas da Rainha.
Informação mais detalhada em:
http://www.pedroletria.com/
Paulo Catrica (Lisboa, 1965) é autor das monografias Memorator (2015), Mode d’emploi (2014), TNSC (2011) e Liceus (2005). Expõe regularmente desde 1997 e as suas fotografias fazem parte de colecções públicas e privadas em diversos países. É investigador integrado do IHC na Universidade Nova de Lisboa.
Informação mais detalhada em:
https://paulocatrica.pt
https://imagini-videre-cogitare.com/
Informação mais detalhada em:
https://paulocatrica.pt
Felipe Russo (São Paulo, 1979) é autor de dois livros: Centro (2014) e Garagem Automática (2020). O seu trabalho, que foi exposto no Brazil, na Alemanha, França e Guatemala, faz parte de colecções públicas e privadas nestes países, entre as quais a Maison Europeenne de La Photographie (Paris) e o Museu da Cidade de São Paulo. Centro foi considerado pela revista TIME como um dos livros do ano em 2014.
Informação mais detalhada em:
https://feliperusso.com/
André Cepeda (Coimbra, 1976) é autor de dez livros, entre os quais Anti-Monumento (2019), Depois (2016), Rua Stan Getz (2015), Rien (2012), e Ontem (2010). Expõe com regularidade, dentro e fora de Portugal, desde 1999. As suas fotografias fazem parte de colecções publicas e privadas nacionais e internacionais, tais como a Fundação de Serralves (Porto), MNAC (Lisboa), Museu de Arte do Rio (Rio de Janeiro), Espace Photographique Contretype (Bruxelas), Culturgest-Caixa Geral de Depósitos (Lisboa). Está neste momento a preparar o seu novo livro e exposição com inauguração em Abril 2020 “Ballad of Today” no MAAT, com curadoria de Urs Stahel e publicado por Pierre von Kleist Editions.
Informação mais detalhada em:
http://www.andrecepeda.com/
David-Alexandre Guéniot (Caen, 1972), formado em ciências políticas e filosofia, é co-autor de vários livros com Patrícia Almeida, entre os quais All Beauty Must Die (2011) e Ma vie va changer (2015). É co-fundador e responsável artístico da GHOST, editora criada em 2011.
Informação mais detalhada em:
http://www.ghost.pt/
Susana S. Martins é Investigadora Integrada do IHA-Instituto de História da Arte, FCSH, Universidade NOVA de Lisboa, onde coordena actualmente o grupo MuSt - Museum Studies. Doutorada em Fotografia e Estudos Culturais pela Katholieke Universiteit Leuven (KULeuven), Bélgica, ensina actualmente na área da fotografia e das artes visuais. A sua investigação tem privilegiado a história e a teoria da fotografia na intersecção com o campo das exposições, das culturas editoriais, das cidades e das identidades nacionais. Tem publicado nestes campos e participado em diversos projectos de investigação no campo dos estudos literários e artísticos. Co-editou recentemente o número da Revista de História da Arte “The Exhibition: Histories, Practices, Policies” (2019) e publicou, com Anne Reverseau, o livro Paper Cities. Urban Portraits in Photographic Books (Leuven University Press, 2016). É membro do Lieven Gevaert Research Centre for Photography, Art & Visual Culture (KULeuven, Bélgica).
Informação mais detalhada em:
https://sites.google.com/site/susanamsmartins/
Nélio Conceição é Doutor em Filosofia (Estética) pela FCSH da Universidade Nova de Lisboa. Foi investigador visitante na PUC-São Paulo (2015) e no Zentrum für Literatur und Kulturforschung (Berlim, 2016). É investigador do IFILNOVA, onde organizou vários seminários e conferências. É ainda co-investigador-principal do projecto Fragmentação e Reconfiguração, no âmbito do qual se realiza este ciclo.
Informação mais detalhada em:
https://www.experienciadacidade.com/nlio-conceio
Humberto Brito (Setúbal, 1980) é professor auxiliar do Departamento de Estudos Portugueses da FCSH da Universidade Nova de Lisboa, onde ensina Teoria da Literatura. Como convidado, ensinou na Universidade de Lisboa, na Universidade de Chicago e na Universidade de Stanford. Escreve sobre literatura, teoria literária e fotografia. É autor de dois livros, Avaria (2019) e Auto-retratos (a publicar em 2020).
Informação mais detalhada em:
https://humbertobrito.com/
3 de Março de 2020: Cinema
O primeiro de uma série de seminários sobre “A Experiência da Cidade entre Arte e Filosofia” é dedicado ao cinema e ao modo como as qualidades estéticas da cidade filmada, fragmentada, incompleta e transitória, são reorganizadas segundo processos de montagem que as reconfiguram diferentemente. Os intervenientes no seminário procuram pensar a cidade cinematográfica como um organismo autónomo segundo as dinâmicas opostas de crescimento e declínio, imagem dialética da relação delicada que se estabelece entre fragmento e totalidade, passado e presente, esquecimento e lembrança, ausência e presença. A cidade como tema cinematográfico revela-nos um espaço e um tempo complexos e paradoxais, de coexistência estratigráfica, de uma morte que não se deixa contemplar. Procurando conciliar as diferentes velocidades de montagem com a inibição da permanência das imagens, o cinema é ele próprio uma alegoria da decadência e do fragmento. Assim, a sessão matinal é dedicada à obra de Manuel Mozos e à reflexão do carácter alegórico das ruínas em oposição a uma homogeneização ordenada do espaço e do tempo, complementada pela sessão da tarde que explora uma possível cartografia porvir de continuidades/descontinuidades entre centros(s) e periferia(s) nas obras de João Rosas, Luís Correia, Leonor Noivo, João Nisa, Filipa Reis e João Miller.
Programa:
Sala 306 CAN (Colégio Almada Negreiros)
10h00-13h30
10h00-10h20
Susana Viegas, “Erewhon, ou o lugar dos fragmentos cinematográficos”
10h20-11h40
Manuel Mozos (com visionamento de Ruínas)
{Intervalo 20’’}
12h00-12h40
Paulo José Miranda, “Mozos: A Falta de Amor”
12h40-13h10
Paula Carvalho, “A luz saturnina de Lisboa - Ramiro de Manuel Mozos. Melancolia e as suas figuras numa Lisboa entre a perda e a reconfiguração”
{Debate 20’’}
{13h30-15h00 Almoço}
15h00-18h00 Mesa-redonda
Susana Nascimento Duarte (introdução e moderação)
João Rosas
Luís Correia
Leonor Noivo
João Nisa
Filipa Reis e João Miller
Bios dos convidados:
Manuel Mozos nasceu em Lisboa em 1959. Terminou o curso de Cinema em 1984, no Antigo Conservatório Nacional (atual Escola Superior de Teatro e Cinema). Trabalhou como montador, argumentista e assistente de realização com inúmeros realizadores portugueses. Desde 2002 trabalha no A.N.I.M.- Cinemateca Portuguesa, na área de identificação, preservação e restauro de cópias em película. Como realizador, o seu primeiro filme foi Um passo, outro passo e depois… (1989), vencedor do prémio de Melhor Filme Estrangeiro em Entrevues, Festival Internacional de Cinema de Belfort, em 1990. Desde então realizou mais de vinte filmes, entre ficção e documentário, curtas e longas-metragens, entre os quais se destacam as longas-metragens …Quando Troveja (1999), Xavier (1991/2002), 4 Copas (2008) e Ramiro (2017), bem como os documentários Lisboa no Cinema(1994), Cinema Português-Diálogos com João Bénard da Costa (1996), Ruínas (2009) e o mais recente Sophia, na primeira pessoa (2019).
Paulo José Miranda licenciou-se em Filosofia e, em 1997, publicou o primeiro livro de poesia, A Voz Que Nos Trai, com o qual venceu o primeiro Prémio Teixeira de Pascoaes. Em 1999, e já a residir em Istambul, na Turquia, tornou-se também o primeiro vencedor do Prémio José Saramago, com a novela Natureza Morta. Mais tarde, viveu também em Macau e no Brasil, escrevendo poesia, ficção, teatro e ensaio. Em 2015, recebeu o Prémio Autores, da Sociedade Portuguesa de Autores, pelo livro de poesia Exercícios de Humano, e regressou a Portugal, começando pouco depois a trabalhar na biografia de Manoel de Oliveira, A Morte não é Prioritária.
João Rosas nasceu em Lisboa a 2 de Novembro de 1981. Estudou Ciências da Comunicação e Cinema em Lisboa e Bolonha. Fez o MA Filmmaking na London Film School, como bolseiro da Fundação Gulbenkian. É autor de três livros de contos. Realizou o documentário Birth of a City (competição nacional IndieLisboa 2009) e algumas curtas-metragens, entre as quais A minha mãe é pianista (Menção Honrosa no OvarVídeo 2006), Entrecampos (Curtas de Vila do Conde 2012, Festival de Angers 2013, entre outros) e Maria do Mar (Melhor Curta Metragem no Curtas Vila do Conde 2015 e no Olhar de Cinema 2016).
Leonor Noivo estudou Arquitetura e Fotografia antes de ingressar na Escola Superior de Teatro e Cinema em 1997, onde se especializou em Montagem e Realização. Em 2006 completou o Curso de Cinema Documental dos Ateliers Varan na Fundação Calouste Gulbenkian. É co-fundadora da produtora TERRATREME Filmes, plataforma de cineastas criada em 2008, juntamente com João Matos, Luísa Homem, Pedro Pinho, Susana Nobre e Tiago Hespanha, onde tem desenvolvido, a par dos seus filmes, o trabalho como produtora na coordenação e acompanhamento de projetos de ficção e de documentário de diversos realizadores. Realizou as curtas-metragens Salitre (2005), A Cidade e o Sol (2012), Setembro (2015) e Tudo o que imagino (2017) e os documentários Macau Aparte (2001), Assembleia (2006), Excursão (2007), SUD (2009), Outras Cartas ou o Amor Inventado(2012) e Raposa (2019).
Luís Miguel Correia (n. 1977, Santa Iria de Azóia) é licenciado em Ciências da Comunicação, variante de Cinema, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Realizou as curtas-metragens O Dedo (2005), Estação (2007) e Crónica Parisiense (2012) e os documentários Fernando Calhau- Work in Progress (2001), Da Natureza das Coisas (2003) e Pedro Calapez-Trabalhos do Olhar (2009). Trabalhou como montador, argumentista, cameraman e assistente de realização em diversos filmes. A par de outros projetos, desenvolve atualmente o documentário de longa duração Santa Iria, em fase de montagem.
João Nisa concluiu o curso de Cinema da Escola Superior de Teatro e Cinema e a licenciatura e o mestrado em Ciências da Comunicação da Universidade Nova de Lisboa. Colaborou com ensaios sobre o trabalho de vários cineastas e sobre as relações entre o cinema e a arte contemporânea em publicações nacionais e internacionais. Durante cerca de dez anos, lecionou disciplinas relacionadas com a história do cinema e com o vídeo e o cinema experimental na Escola Superior de Artes e Design (Caldas da Rainha). Realizou o filme Nocturno (2007), exibido em diversos festivais e programas. Encontra-se a concluir um conjunto de dois filmes realizados a partir de um texto de Jean de Berg (Catherine Robbe-Grillet) e a trabalhar no projeto Impressões de uma Paisagem.
Filipa Reis e João Miller vivem e trabalham juntos em Lisboa, onde fundaram em 2008 a produtora UMA PEDRA NO SAPATO. Filipa licenciou-se em Gestão, tem uma pós-graduação em Cinema e Televisão e frequentou o mestrado de Desenvolvimento de Projecto Cinematográfico da ESTC. João formou-se em Design de Equipamentos e completou estudos em Pintura e Artes Plásticas no Ar.Co. Juntos realizam filmes desde 2010, exibidos e premiados em festivais nacionais e internacionais de cinema. Em 2018 terminam a sua primeira longa-metragem de ficção, DJON ÁFRICA, que estreou mundialmente na Tiger Competition do Festival de Roterdão, ganhou o prémio FIPRESCI do júri e uma menção honrosa no Festival Internacional de Cinema do Uruguai. DJON ÁFRICA estreou comercialmente no Brasil, Reino Unido, Alemanha e Portugal. Os realizadores preparam atualmente a sua segunda longa-metragem de ficção, LÉGUA.
Seminário do Projecto
Fragmentação e Reconfiguração
A experiência da cidade entre arte e filosofia
Sessão Especial
24 de Junho | 15h00*
Programa:
15H00 Saudações e apresentação.
15h05 Paula Carvalho irá falar de como foi lida a cidade, dos aspectos que surgiram, e do que se perspectiva - o que podemos esperar ou temer - a partir do respigar em textos escritos em jornais, revistas e ensaios nestes tempos de pandemia.
15h25 Bartholomew Ryan vai falar sobre a viagem [entre o 'êxtase da catástrofe' e 'o pensamento ecológico'] dum dia em 1904 de Leopold Bloom no romance Ulysses (1922) de James Joyce.
15h45 João Oliveira Duarte irá falar de história natural a partir de Sebald.
16h05 Maria Filomena Molder fará a leitura integral de uma crónica de Carlos Drummond de Andrade, intitulada “Ventania”. Seguir-se-ão dois dedos de conversa.
16h25 Intervalo
16h35 Nélio Conceição vai partir do filme La Soufrière, de Werner Herzog, para falar de catástrofes iminentes e da espera, para atravessar cidades vazias e chegar à indiferença da natureza que une vulcões, plantas, parasitas de células humanas e o olhar de um urso (regressando assim a Herzog)."
16h55 Inês Sapeta Dias irá de falar de tempos mortos (e de cidades projectadas de dentro de quartos fechados) a partir de Venise N'existe Pas, filme de Jean-Claude Rosseau, de 1984.
17h15 Nuno Fonseca vai falar do ruído de fundo (ou do silêncio) nas cidades, a partir de um trabalho gravado em disco, 4 Rooms, do artista sonoro Jacob Kirkegaard.
17h35 João Pedro Cachopo irá falar da viagem, e da remediação das imagens e dos sons da viagem, na cidade e para além dela, a partir de dois projectos: um fotográfico (The Lonesome Project de David Cachopo) e outro de investigação (Sound Postcards in Times of Covid-19 Confinement de Iñigo Sánchez).
17h55 Observações finais e conclusão.
Moderação – Alexandra Dias Fortes.
*A Sessão Especial irá realizar-se na plataforma Zoom. Pedimos a todos os interessados em participar que nos enviem um e-mail para experiência.cidade@gmail.com. Responderemos com a ligação que vos permitirá juntarem-se a nós.
Ciclo de Seminários: Figuras Conceptuais da Fragmentação e Reconfiguração
Janeiro - Junho 2019
27 de Junho: Ruína e Metamorfose
Maria Filomena Molder (IFILNOVA), “Ruínas. Aproximações.”
Maurizio Gribaudi (EHESS-CRH), “Paris 1789-1857 – as metamorfoses de uma cidade.”
15h00-18h00 | Sala 1.05 - Edifício I&D, piso 1 - FCSH
Resumos:
Maria Filomena Molder
1. Ruínas e comunicação de um segredo.
1.1. Qual o segredo que comunicam as ruínas forjadas?
1.2. Qual o segredo que comunicam as ruínas da casa de Wittgenstein em Skjolden na Noruega?
2. A Pianta di Roma de Piranesi. Pezzi sem matriz. “Roma sepultada nas suas ruínas” (Quevedo) eterna e lábil, fugidia.
2.1. Goethe e a tarefa de reconstituir a imagem daquilo de que não se pode ter uma ideia senão arruinada: A Viagem a Itália.
3. Ruínas e alegoria.
3.1. Ruines. Ma famille, Baudelaire, poema « Les petites vieilles » de Les fleurs du mal. Alegoria e compaixão.
3.2. O método histórico em Benjamin. Imagem dialéctica, ruínas (farrapos e resíduos), apocatástase e montagem.
3.2.1. “O carácter destrutivo”: Apolo versus o anjo da história.
3.3. Ruínas como imagem da cidade em O Livro do Desassossego, Bernardo Soares/Fernando Pessoa e em Um Bicho da Terra de Agustina.
4. Ruínas e melancolia. O Teatro Thalia em Lisboa. Forma, função e metamorfose.
Maurizio Gribaudi
Apresentando em 1927 a sua grande obra sobre a história urbana, o grande historiador Marcel Poëte escrevia que a evolução de uma cidade está indelevelmente marcada pelas formas que ela pede emprestadas desde o início. Os terrenos da sua primeira implantação, mas também o espaço construído, com as suas vias e os monumentos mais importantes.
Esta observação, ao mesmo tempo objectiva e banal, foi lida muitas vezes como um convite a pensar a continuidade total na evolução das paisagens urbanas. Como no caso da lagarta e da crisálida da borboleta, as formas iniciais de uma cidade trariam já inscritas em si as dos seus caminhos futuros, numa espécie de metamorfose geneticamente programada.
Ora, se observarmos atentamente a evolução de uma cidade, aperceber-nos-emos que a dimensão da continuidade é dada unicamente pelas diferentes maneiras de retomar e corrigir as numerosíssimas rupturas que balizam o seu desenvolvimento. É, portanto, mais a este nível que podemos encontrar a continuidade e a identidade de uma cidade. A natureza das tensões que a atravessam, as cicatrizes e as feridas mais profundas que ela carrega, são também os traços que a individualizam e que a definem como única e diferente a cada momento do seu devir.
Nesta óptica o desenrolar urbano aparece-nos mais como o engendramento contínuo e jamais previsível de formas sempre novas, uma sequência ininterrupta de metamorfoses que mudam tanto a natureza do espaço físico como a fisionomia e as perspectivas dos seus habitantes.
Evocando a evolução de Paris desde a Revolução até ao Segundo Império, tentarei mostrar a acção desses mecanismos, concentrando a atenção nos conflitos e nas numerosas rupturas desse período particularmente crucial.
6 de Junho: Apresentação panorâmica e montagem
Alexandra Dias Fortes (IFILNOVA), “Apresentação panorâmica: Aspectos conceptuais e metodológicos de uma sinopse (da vida urbana)”
Susana Nascimento Duarte (IFILNOVA), “Cidade, montagem extensiva, constelação”
15h00-18h00 | Sala 1.05 - Edifício I&D, piso 1 - FCSH
Resumos:
Alexandra Dias Fortes
A noção de apresentação panorâmica (übersichtliche Darstellung) é de uma importância fundamental; denota, por um lado, a visão clara – por exemplo, de uma paisagem, de um jogo de linguagem, de uma cidade – e, por outro, um conceito que procede de um movimento analógico, que compara e aproxima palavras, imagens e fragmentos, reunindo-os ou reconfigurando-os mediante o encontro de elos intermédios num todo com sentido.
Por este motivo, dado o seu carácter activo e dinâmico, delimitá-la e fixá-la conceptualmente revela-se uma tarefa difícil de levar a bom termo – não quer isto dizer, no entanto, que não possamos traçar aspectos da sua fisionomia e descobrir a sua lógica interna. Como elaboramos nós apresentações panorâmicas? O plural é mais conveniente e adequado do que o singular: é um exercício que não conhece fim e que se multiplica em momentos de compreensão, em sinopses daquilo que observamos, dos nossos modos de agir e de dizer. A sua complexificação e dilatação não deve, contudo, desembocar na confusão e na ruína da percepção. Donde, a necessidade de trazer à luz os seus aspectos metodológicos – um dos objectivos desta comunicação – que nos permitem ver aquilo que nos rodeia com maior nitidez, e ser justos em relação aos factos quando os descrevemos. Wittgenstein considera a apresentação panorâmica vital, e as observações que lhe dedica – inspiradas em Spengler, mas sobretudo em Goethe – são preciosas para que possamos apreender o seu valor intelectual e sensível. Partindo dessas observações, procurar-se-á ainda perceber como pode a apresentação panorâmica elucidar a experiência da cidade. Aldo Rossi permitirá entrar nesta última.
Susana Nascimento Duarte
No projecto das Passagens, projecto inacabado para o qual colecionou uma massa de notas, citações, Denkbilder, referências bibliográficas e fotográficas reunidas n’As Passagens de Paris (Das Passagen-Werk, Volume 5 de Gesammelte Schriften), Walter Benjamin propõe, como método adequado à reflexão e produção de um léxico histórico sobre as origens capitalistas da modernidade, a montagem de imagens concretas e factuais da experiência urbana que lhe está associada. Benjamin manuseia estes factos como se estivessem carregados de energia revolucionária, capaz de ser transmitida, transversalmente, por várias gerações. O que é a montagem neste âmbito? Uma operação que permite uma outra legibilidade da história, que se torna objecto de construções textuais e imagéticas proporcionadas pelas citações extraídas dos seus contextos originais, e trazidas para o presente mais imediato, com o poder de acordar a consciência política por entre leitores contemporâneos; se a montagem é visível desde logo e literalmente nas passagens parisienses, que estão no centro do projecto, na caleidoscópica forma de justaposição de anúncios e signos de lojas, na fortuita disposição de objectos e mercadorias nas montras, foi elevada pela tecnologia, sobretudo pelo cinema, ao longo do século XX a um princípio consciente de construção. Não é por acaso que Benjamin vê no cinema o meio por excelência para a composição de uma ‘crónica’ da cidade moderna. Com efeito, para lá da dimensão mais estrita e técnica de montagem, a verdadeira invenção do cinema é a montagem como conceito, inseparável da questão do tempo e da sua problematização; a montagem extensiva, que aproxima realidades longínquas e heterogéneas, adequa o cinema para a compreensão da circulação entre tempos históricos diversos procurada por Benjamin, para a proposta de actualização do passado no presente, como movimento essencial que define o fenómeno histórico como constelação. Partindo do cinema, o que significa hoje um olhar para cidade a partir do princípio da montagem, como o fez Benjamin para a Paris do século XIX?
14 Maio: Experiência estética e Fragmento
Nuno Fonseca (IFILNOVA), Tentativa de esclarecimento de um lugar filosófico: a experiência estética (na cidade)
Bruno. C. Duarte (IFILNOVA), “Fragmento: Imagem e conceito”
15h00-18h00 | Sala multiusos 3 - Edifício I&D, piso 4 - FCSH
Resumos:
Nuno Fonseca
A noção de experiência estética tenta dar conta de uma parte importante da experiência humana e, embora abarque uma variedade imensa e multifacetada cuja complexidade e vagueza tem sido um desafio para a sua definição (ao ponto de alguns sugerirem a sua inutilidade conceptual), ela não deixa de ser central e determinante para toda uma disciplina filosófica: a Estética, a qual não se confunde com a Filosofia da Arte, ainda que com frequência a intersecte. Considerar-se-á aqui o caso da cidade, que não é tanto um objecto como um campo multiforme e fragmentado de possíveis experiências estéticas, para tentar esclarecer ou, pelo menos, dar um contributo para o esclarecimento do sentido e alcance desse tópico ou lugar filosófico.Bruno C. Duarte
Quando chega ao fim um conceito? Talvez no momento em que se transforma numa imagem. Depois de muitas variações sobre a «arte» ou a «estética» do fragmento, este parece ter chegado a um estado de exaustão, ou pelo menos a um impasse. Sob muitos aspectos, deixou de ser um universal, uma figura da teoria, e voltou a ser apenas um fragmento, isto é, uma parte visível e tangível de qualquer coisa como um todo que, para todos os efeitos, permanece desconhecido enquanto tal. Como fragmento, tornou-se um conceito que já só é um conceito porque o reconhecemos imediatamente (e literalmente) como uma imagem. É a partir do desencontro destas duas percepções – uma teórica ou discursiva, a outra sensível ou física – que se torna ainda possível pensar isso a que chamamos «fragmento». Para o fazer, tentaremos olhar de perto algumas obras célebres que, por caminhos e por razões muito diferentes, se tornaram fragmentos: Woyzeck de Georg Büchner – Almas Mortas de Nikolai Gógol – Metrópolis de Fritz Lang – Greed de Erich von Stroheim.
11 AbriL: Cosmopolitismo e Catástrofe
Bartholomew Ryan (IFILNOVA), "Caosmopolitismo em James Joyce: Cidade,Ruínas, Traição, Nomadismo, Corpo"
Gianfranco Ferraro (IFILNOVA), "Catástrofe e reconstrução: utopias, distopias e reconfigurações da forma urbis"
15h00-18h00 | Sala 1.05 - Edifício I&D, piso 1 - FCSH
Resumos:
Bartholomew Ryan
James Joyce cunhou a palavra 'chaosmos', que incorpora a visão colidida e caleidoscópica ('collideorscape') da fragmentação e reconfiguração na obra do artista. Faremos uma viagem através de cidades, ruínas, traições, da vida nómada e da "epopeia do corpo humano" em direcção a uma perspectiva e arte da vida, a que chamo Caosmopolitismo.Gianfranco Ferraro
No momento da catástrofe, uma forma de vida, e ainda mais uma forma de vida urbana, descobre-se nua. Ao longo da história, a catástrofe urbana constituiu um momento crucial de reconsideração da relação entre natureza e construção humana. Ao mesmo tempo, a irrupção da catástrofe na história urbana inaugurou a possibilidade de novas formas de vida, e bem assim a imaginação de utopias e distopias através das quais se reconfigura a vida e a forma da cidade. Através de alguns exemplos (Lisboa, Messina, Gibellina) de catástrofes "naturais" e de alguns exemplos de catástrofes "humanas", esta apresentação tentará abordar como a filosofia, enquanto maneira de viver e prática de reconfiguração, atravessou historicamente e continua a atravessar o "lugar" esvaziado, quer pelas catástrofes, quer pelas mudanças contemporâneas da vida urbana, tornando-o um novo topos vivente.
20 fevereiro: arquivo e atlas
João Duarte (IHA-FCSH), “Entropia e prosopopeia na ordem do arquivo”
Nélio Conceição (IFILNOVA), “As tensões dialécticas do atlas”
15h00-18h00 | Sala 1.05 - Edifício I&D, piso 1 - FCSH
Resumos:
João Oliveira Duarte
Iremos partir de três imagens para interrogarmos um conjunto de práticas artísticas contemporâneas onde o arquivo se encontra em questão. A primeira imagem chega de Wolfgang Ernst: o arquivo pressupõe ou implica uma “prosopopeia alucinada”, uma tensão ou uma distribuição irregular entre a voz do vivo e a voz que chega de outro lugar. A segunda imagem parte de uma conhecida história de Simónides de Ceos: num jantar, os convivas foram soterrados pelo tecto da sala e Simónides, que ter-se-ia ausentando pouco tempo antes, conseguiu identificar todos eles a partir do lugar em que se encontravam sentados, colocando a memória numa tensão entre a ordem da proveniência e a destruição. A terceira e última imagem encontra-se na proximidade da primeira, e acentua acima de tudo o trabalho da distância, do tempo e da técnica. Nesta última, o arquivo assemelhar-se-ia a uma concha de onde se ouve, à distância, um som que parece o mar.Nélio Conceição
Em O Livro das Passagens, Walter Benjamin refere uma espécie de “desordem produtiva” que seria o cânone, quer da memória involuntária, quer do coleccionador. Poderá o mesmo cânone ser aplicado à figura conceptual do atlas? E, se a resposta for positiva, que traços específicos tomará ele neste caso? Acompanhando de perto – mas com alguns desvios – a obra de Didi-Huberman «Atlas ou a Gaia Ciência Inquieta», e desde logo a constatação de que o atlas constitui uma forma visual de saber que implica dois paradigmas, o estético da forma visual e o epistémico do saber, irei explorar a figura do atlas enquanto organização de imagens e espaço de pensamento onde a fragmentação e a reconfiguração surgem como noções plenamente operativas. Algumas oposições dialécticas guiarão o percurso e os excursos: infância e idade adulta; adivinhação e estudo; natureza e história; trapeiro e fotógrafo. Tratando da organização do(s) espaço(s), das suas ligações e tensões, a figura do atlas pode também ser utilizada heuristicamente para ver e pensar as cidades – lugares aos quais temos um acesso sempre circunscrito e fragmentado.
22 Janeiro: Colecção e Memória
Maria João Gamito (FBAUL), “Colecção: quadros, caixas, vistas e nuvens.”
Claudio Rozzoni (IFILNOVA), “Fotografias como fragmentos de memória? Fotos, crença, fantasia.”
15h00-18h00 | Sala Multiusos 2 - Edifício I&D, piso 4 - FCSH
Resumos:
Maria João Gamito
Tomando como referência quatro textos literários — «Um gabinete de amador», de Georges Perec, «A nova Melusina», de Goethe, «Deux originaux», de E. T. A. Hoffmann e «O colecionador de nuvens», de Mauricio Montiel Figueiras — aborda-se a vocação sedentária da colecção, associada a um centro e a um impulso centrípeto, a um nome e ao seu ensimesmamento, a uma territorialidade estável e à sua representação, por oposição à vocação nómada das metrópoles contemporâneas, associada a uma descentralidade e a um impulso centrífugo, a um anonimato e à sua multiplicação, a uma territorialidade instável e à sua comparência.
O mundo numa pintura, o mundo numa caixa, o mundo como imagem-quadro e o que, do mundo, escapa ao quadro, são aqui entendidos como circunstâncias de uma cultura da curiosidade que tanto o figura, miniaturizando-o na lógica finita da colecção, como, ampliando-o, o reconfigura nas imagens fugidias das multidões excêntricas que circulam, transportando os lugares para outros lugares, deles fazendo, de cada vez, a paisagem impermanente de uma origem.Claudio Rozzoni
Desde Aristóteles, a tradição filosófica tem questionado a relação entre a memória e “o que foi”. As imagens da memória, fragmentos do nosso passado, “trazem de volta”, manifestam o que já não é, o que já não pode ser percebido, segundo uma forma peculiar de presença/ausência. Mas esta mesma presença paradoxal é aquela evocada pelas imagens da fantasia (Phantasia), capazes de oferecer uma proteiforme manifestação de fragmentos irreais.
Também as imagens públicas que se tornam cada vez mais parte da nossa vida são fragmentos que usamos com frequência para recriar o que foi e dar unidade e sentido às nossas experiências. Como é que a memória e a fantasia caracterizam a nossa relação com estas imagens físicas? E, entre estas, têm as fotografias uma relação privilegiada com o nosso passado, constituindo assim “fragmentos puros” para a reconstrução das nossas histórias?